O porquê de eu ter saído da Igreja.

Como já abordei inúmeras vezes aqui, a Verdade é um caminho sem volta. Depois que se conhece certos assuntos, não é possível abandoná-los e deixar de acreditar neles.

Porém, algumas angústias acabam voltando. Muito daquilo que seu Eu Cheio De Graça batia, acabava voltando quando sua fé está fraca. Uma das coisas que sempre dei risada quando estava ativo na Igreja foi o Existencialismo.

Sendo bem honesto, o Existencialismo é compreensível. Compreensível no sentido de tolerável. Afinal, compreendo o Existencialismo como uma crise adolescente, nada mais. O existencialista só precisa de ajuda. No entanto, nivelar o caso como "crise adolescente" não desqualifica o caso para debate. O Existencialismo é mais sério do que muitos imaginam. Se o problema não for encarado com seriedade e com muita maturidade, então a plenitude da paz jamais será alcançada pela pobre alma atormentada pelo desejo em descobrir o sentido de sua existência.

O Existencialismo nada mais é do que a revolta em não encontrar sentido na própria existência, ou querer atribuir sentidos mundanos -- acreditando que preencherão esse vazio intrínseco em nós. Isso é tolo. É juvenil. Porém, compreensível justamente porque sentimos que o Existencialismo nos acolhe.

É por isso que quem está ativo na Igreja sente pena de quem pensa assim. Porque aquele que está ativo na Igreja acha que encontrou algo. E de fato encontrou. Só não sabe até quando isso vai acolhê-lo.

A chama da Igreja não queima pra sempre. É preciso alimentar isso sempre. Porém, o caminho é extremamente árduo. Muitas vezes você se questiona se realmente isso vai adiantar de algo. Muitas vezes você se questiona se andar uma estrada cheia de espinhos valerá a pena, pois se pisar na tábua lisinha posso simplesmente perder todo meu progresso e ser condenado ao mesmo destino de quem sempre andou na tábua lisa.

Sem falar de metáforas, se você vive uma vida reta mas cometeu um deslize, seu destino é o mesmo de quem sempre viveu deslizando.

É por isso que o Existencialismo é tão acolhedor. Justamente porque conhecer a Verdade, por si só, também não é suficiente. É preciso ter ferramentas para lidar com a magnitude imensa que é a Verdade.


Veja bem:

Nosso vazio é praticamente impreenchível. Estamos sempre enjoados, cansados, vazios. Somente algo Infinito e Perfeito poderia preencher esse vazio. A questão é: e se eu não encontrar preenchimento nesse Infinito?

O Infinito por si só já é suficiente e pode sim suprir nosso vazio. A questão é que nossas limitações são tantas que não conseguimos encontrar preenchimento dentro desse Infinito. É como se estivéssemos vivendo num placebo existencial, com nossos valores servindo de combustível. É como viver uma vida tentando andar retinho, mas desejando dar descanso à coluna. Enquanto sua coluna (seus valores) te esmaga, você está lá, firme e forte, crente que vai chegar a algum lugar. Mas a dúvida bate.

Contando um pouco de minha trajetória, eu fui assim. Um existencialista sem saber. Não encontrei o preenchimento Perfeito em sua plenitude, mesmo exercitando conforme orientado pelos grandes intelectuais da filosofia perene. Estive participando de encontros, falando em meio aos jovens, compartilhando algumas coisas do que eu sei. Mas no dia seguinte estavam todos ali, enchendo a cara, transando horrores e dando risada de coisas que eu não vejo um pingo de graça.

Sim. Acabei de falar que precisamos colher resquícios do que é bom sempre. Precisamos sempre estar exercitando nossa fé. A questão é que nossas limitações são maiores do que imaginamos, e as vezes nos damos por vencido.

Podemos estar felizes servindo dentro da Igreja, mas ao mesmo tempo tristes por dentro ao ver todos os seus amigos -- ou, apenas conhecidos -- se divertindo nos finais de semana saindo em festas extravagantes, jantando nos melhores restaurantes da cidade, bebendo nos bares mais sofisticados, se envolvendo com as pessoas mais bonitas, se aventurando nos desejos mais profundos da carne.

Viver assim é cansativo. É angustiante. Ainda mais quando se aprende que é melhor se arrepender por ter feito do que viver desejando ter feito.

Podemos encontrar uma Luz que nos conduza ao Eterno. Porém, somos imediatistas demais. Não é preciso ser Existencialista pra entender que a vida é uma porcaria. A Doutrina Cristã também ensina isso. Por isso a promessa do Céu é tão almejada.

No entanto, como acabei de dizer, somos imediatistas demais. Qual o fundamento em viver uma vida inteira em um mundo tão difícil? Tão sem graça? Tão cheio de prazeres considerados ilícitos, porém, tentadores? Se existe um Céu tão perfeito onde o Estado de Felicidade é Eterno e Perfeito, então não consigo ter motivações pra continuar vivendo aqui, onde a felicidade é passageira e os vícios brigam constantemente com as virtudes.

Entendo que Deus espera que nossa motivação seja justamente o contrário. Justamente por saber que existe um Paraíso, nossa motivação deveria ser justamente nos mantermos dignos para assim termos a possibilidade de alcançar o céu através da misericórdia e acolhimento de Cristo. No entanto, como também citei, não é nada fácil. É angustiante, pois posso deslizar no caminho e ter o mesmo destino de quem nunca deu a menor importância pra isso.

É horrível pensar na ideia de que seu progresso pode ser perdido em sua totalidade, meramente porque fraquejou.

Temos tantos mecanismos que nos ajudam a perseverar, mas é simplesmente impossível viver no caminho pleno da salvação. Não é todo mundo que é agraciado como os Santos foram. Muitos Santos nem sequer sentiam tentação, pois estavam em outro nível de pureza. Porém, até mesmo a tentação é prazerosa, e é difícil "não querer" sentir tentação.

Abrir as redes sociais e ver as pessoas se divertindo de maneiras que você nunca sequer sonhou é algo simplesmente emocionante. Por mais que a felicidade deles também seja passageira, você sente que a felicidade deles é maior que a sua. Você entende que a ignorância deles pode tornar a ida deles ao céu ainda mais fácil do que a sua.

A Verdade, nesse caso, te condenou. Te condenou a saber que a ti, tudo pode, porém nem tudo lhe convém. Te condenou a saber que muitos não ligam pra isso, e nem sequer sabem a importância disso. Mas, justamente por não saber, não serão cobrados por isso.

A Verdade, nesse caso, te fez pensar que a Ignorância é uma bênção. E tudo o que você sempre quis, desde o início, é ser uma besta quadrada que enche a cara nos finais de semana e que come uma prostituta barata depois da bebida.

Quanto mais sabemos, mais estamos sujeitos a sermos cobrados. Mais vale ser omisso e não procurar certas respostas do que descobrir um leque de verdades e ser escravo dessas verdades. Verdades que nos prometem libertação, mas que na verdade nos esmagam. Como diz o filósofo -- que por sinal, é Existencialista -- Nietzsche: "É pelas próprias virtudes que se é castigado."

Achei que meus vícios estariam me condenando. Mas, na verdade, minhas virtudes também me condenaram. Me condenaram a não encontrar felicidade nem nos vícios, nem nas virtudes. Me condenaram a nunca mais sentir felicidade, justamente por saber que ela não existe. Não aqui.

A Verdade me condenou a saber que a Felicidade só existe no pós-morte. Só existe no Céu, onde muito provavelmente eu não irei, justamente por saber demais. Que irônico, né? Queria eu, que fosse mentira.

Comentários

Mensagens populares