Crise de idade e desalento em relações humanas
Existe
um termo dado aos desempregados que desistiram de procurar emprego no cenário
caótico brasileiro, sendo estes chamados de “desalentos.” Os desalentos são
pessoas que simplesmente se cansaram de procurar emprego, de investir tempo e energias,
dinheiro com passagens e currículos, etc. É um fenômeno compreensível, pois de
tantos “nãos” que a vida dá, a pessoa se sente compelida a abraçar o “qualquer
coisa.” Aceita qualquer bico sem carteira assinada, qualquer troca de favores
de boca mesmo, e até arrisca uma tentativa de criar conteúdo pela internet
lucrando com o consumismo humano (idiotices do Kwaii e Tiktok que o diga).
Faz um tempão desde a última vez que escrevi algo. Estive
refletindo em como os “desalentos” seriam não em um contexto de trabalho, mas em um contexto de relacionamentos. Já parou pra refletir a ideia de um ser
humano que desistiu de se relacionar? Que cansou de gastar energias com relações
vazias e temporárias, cansou de gastar dinheiro com rolês e meios sociais que nem
agregam tanto assim? É um fenômeno que julgo igualmente compreensível. De tantas
frustrações que a vida dá, a pessoa se vê compelida a parar de tomar
iniciativas em conhecer gente nova, e de desconfiar de cada “oi” de um estranho tentando
te conhecer.
Diferente
do desempregado que aceita qualquer bico, não vejo o desalento em relacionamentos
aceitando qualquer porcaria de amizade. O cansaço é real. Um bico, um
sub-emprego, é para nos mantermos vivos. Uma amizade falsa, um amigo que só te
chama pra farra, um cara que só lembra de você pra pedir favores, ou uma mulher
interesseira, ou uma madame com o ego nas alturas e que fode sua autoestima, são
todos estopins muito fortes para que alguém se torne um desalento em
relacionamentos, pois são relações que não servem para absolutamente NADA a não
ser consumir toda sua energia (e seu dinheiro).
A
hipocrisia da internet é algo que rende algumas risadas, mas no fundo aquilo te
causa dano. Um exemplo forte de hipocrisia é quando um famoso morre. Sempre que
um famoso morre, as redes sociais são infernizadas de pessoas compartilhando
mensagens de luto, frases de que a vida é um sopro e que devemos valorizar as
pessoas que amamos. Na prática, isso não passa de fachada. A internet nos vende
uma imagem bem distorcida da realidade em alguns pontos, às vezes. Começamos a
pensar que estamos ficando velhos demais, que estamos “perdendo” a vida, que
estamos deixando de aproveitar muitas coisas por conta de alguns receios. Concordo
com isso, mas tudo isso CANSA. E cansa BASTANTE. Sei que a vida está passando,
mas não tem absolutamente nada que eu possa fazer em relação a isso.
Eu,
falando de uma experiencia pessoal minha, estou de saco cheio de pessoas no geral. Se
alguém quiser se aproximar de mim, sempre serei um livro aberto, pois entendo
que seres humanos são seres sociais, e a companhia humana faz bem aos nossos
corações. Mas não nego que o trauma em desconfiar de um simples “oi” já está
enraizado em mim. Cansei de favores, cansei de segundas intenções onde o benefício
não é mútuo, cansei de amaciar ego de mulheres com seus joguinhos, cansei de tudo
isso. Sinto que em algum determinado momento eu vou me cansar de tomar
iniciativas também, pois não vai demorar que as outras pessoas tenham as mesmas
desconfianças que eu tenho hoje.
Posso
até estar ficando mais velho, a vida pode até estar passando e eu posso até
estar perdendo essa tão sonhada “vida repleta de boas companhias e aventuras.” Sinceramente?
Quando eu tiver meus 80 anos vou estar consciente de que EU TENTEI. Minha parte
eu fiz, mas vivi em uma sociedade doente. Antes só do que mal acompanhado, seja
eu com 22 anos, seja eu com qualquer idade.
O mal da sociedade é a própria sociedade.
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